Távola De Estrelas: março 2013

Távola De Estrelas

Poesia Do Céu Da Boca

* Sempre DS*SD erpmeS *

Távola De Estrelas, Poesia Do Céu Da Boca, Para Mastigar Devagarinho, Deve Ser Servida À Noite E Acompanhada Dum Bom Vinho Tinto...

Duas Consoantes e Duas Vogais - A Paixão

Postado: Luíz Sommerville Junior On quinta-feira, março 28, 2013 1 Carinhos de Luxo

Saúdo a roda que me movimenta
em demasiados acordes d´ igrejas
de multidões em murmúrios obedientes
com suas túnicas brancas, seus terços
adornando o livro - contra o peito
até onde vai a devoção
desse mar de corações
que caminha com o olhar raiado de vitrais
até aos templos onde os joelhos viajam pelo chão?
seus pensamentos tocando o céu
e seu marchar acariciando o tempo
sobrevivendo a todas as viagens que naufragaram
na curva da História onde a seda de tantos noivados
manchou de vermelho a boda dos povos - sangrando ...
e beijam ... beijam as chagas que salvam os cânticos
porém ...
o altar imponente impôe um silêncio cúmplice
aos crentes que querem ouvir o rumor da nave
mergulhada no bailado do mundo
e mesmo que não tenham casa
e mesmo que não tenham água e pão
sonham ... porque para todos há um lugar no céu ...
cantam ... porque as canções aliviam a dor
e se por um lado, é o Menino que move a fé
por outro lado, é o Homem que a fé move
a razão das bocas que enunciam o credo
Ele, podia ser filho de qualquer um,
Ele, podia ser pai de qualquer filho
o homem, sempre o homem,
como motivo duma guerra de flores
sobe Seu calvário por entre gritos dos que O amam
sobe Seu calvário por entre o chicote dos impérios
até ao ponto onde morrem todos os sorrisos
que a ninguém fazem o favor de esperar
por entre as risadas d´ ironia mal encenada
carregando a cruz
à beira do abismo ...
afirma interrogando o Pai
que no Seu dizer O abandonou
homens , apenas homens a comandar
o destino dum planeta mais pequeno
do que a ambição dos reis que o governam
contudo ...
Maria ...
e
Madalena ...
duas mulheres que simbolizam a razão de ser
de todos os seres humanos
acreditam
que é dos seus ventres que nasce o sol
por ora, agonia do fim,
elas mantêm intacta a esperança
que o Mártir do seu amor sobrevirá às estátuas ...



Luíz Sommerville , 280320130449


Desejamos a todos uma Páscoa muito feliz


O Poeta Dela II

Postado: Daniele Dallavecchia On terça-feira, março 26, 2013 0 Carinhos de Luxo



A poesia que pulsa em meu peito
é flor nova que exala aroma bom
para encantar tua alma de poeta,
se por vezes, de flor não me ajeito
é que esqueço que poeta sonha
com os olhos abertos a musa nua
mesmo quando a mulher que é sua
implora aos pés um qualquer verso
de amor eterno, ou  grande jura,
mas eu que te amo na poesia
e fora dela, compreendi à dura,
poeta ama, mesmo quando inflama,
mas seu peito chora a palavra escrita
que ele, em tristeza, quer e não grita.
Ainda assim, ouço teu murmurar
neste suspiro ao pé do meu ouvido:
amo-te tanto minha menina, querida
será que sabes o quanto... quanto?
Não, não sei! Como poeta também
nunca saberei até que morramos
de tanto amar o amor que nos contém!




Daniele Dallavecchia,  26032013



Verso em Apatia

Postado: Daniele Dallavecchia On segunda-feira, março 25, 2013 3 Carinhos de Luxo


































Sistematicamente arranho o papel
na insistente cobrança dum verso
que expresse escrita audaz e cruel
a que minha mente exige impresso

Tão veloz quanto um pássaro ágil
fujo ao tema e facilmente disperso
letras belas ou soneto de fama vil
tanto pra inspirar-me neste universo...

Cansa-me o dilema de todo santo dia:
O mundo está louco ou eu com medo?
Deus, ainda não me curaste da apatia?

Antes,como uma pedra, tudo aguentava!
Tragédias,loucuras, maldades, desespero!
Só ilusão! não estava ainda acordada!



Daniele Dallavecchia 25032013



Maio De Olhos Vendados

Postado: Luíz Sommerville Junior On domingo, março 24, 2013 2 Carinhos de Luxo




em todas as madrugadas, companheiros,
há um sol que morre estampado numa nota
sem valor
e para que a luz volte a definir o dia
do que não mais regressará
é necessário que o medo,
também possa vender-se
por uma qualquer moeda
desvalorizada
e a coragem,ou a loucura de combater sem pensar,
se aposse de todos os valores
velhos ou novos
carregados de rugas que sejam o festim dos anos
carregados de recém nascidos que sejam o alvorecer
duma nova casa ....
delírio-sinónimo das estrelas que eu não sei pintar
em todos os crespúsculos
há uma lua sem fundamento
que voa sem rede que a possa amparar
que já devia ter morrido...
em verdade, companheiros,
como pode a lua surgir no céu
quando o sol de vendido
é apenas uma cega recordação?...



Luíz Sommerville Junior, 240320130601


Para onde vai a alma ?

Postado: Luíz Sommerville Junior On sexta-feira, março 22, 2013 2 Carinhos de Luxo


Vi-te ainda há pouco
e eras menina
apesar de todos os teus anos
não sei
porque razão a imagem
congelou
no momento
em que a tua voz soou
e agora que te vejo
com o peso duma indecifrável idade
ele - o caminho
ela - a vida
fundem-se
e sei , percebo neste instante,
que essa fusão
gera o tempo
em que a única coisa que fica
é a imagem congelada
desligada da voz
e por mais que eu olhe
a menina que vi ainda há pouco
tenho medo de olhar...

(para onde vai a alma
quando a luz queima a nascente ?...)


Luíz Sommerville Junior , 220320131221


"Haz esta noche perpetua" pelo amigo ZéSilveiradoBrasil

Postado: Luíz Sommerville Junior On quinta-feira, março 21, 2013 1 Carinhos de Luxo

 
"Haz esta noche perpetua" declamado pelo amigo ZéSilveiraDoBrasil

 Pai
quantas bolas rolaram
pelo teu coração
em correrias loucas
quando resguardavas o movimento
dos meus pontapés no ar
com o teu olhar ?
quantos piões falharam
no carrocel daquele céu salgado
que a segurança dos teus braços
abraçava em terno ninar - cantando ?
- sobre a mesa o comboio que partia
no eclipse daquele fantasma que não mais me afligiria -
e , tu , com tua voz de tenor ímpar
oferecias-me o relógio
que até ao último dia - tua hora honrará .
três anos nos meus pequeninos olhos
e o universo todo , no meu pulso a vibrar !
Ó voz que apenas tu sabes entoar:
"Detén el tiempo en tus manos,
haz esta noche perpetua"
e eu ... de nada saber ,
apenas o coração a tremer
- donde te vinha esse sopro que em mim refulgia ? -
os ponteiros imortalizavam-te - registo !
energia onde o teu sustenido não cabia
arrebatador !...

- com que estás a brincar ?
- perguntavas-me -

e eu calado para não te sobressaltar
com o olhar te confessava

- és a voz do meu pulsar .

aprumavas o peito e entoavas mais um pouco
o mundo que me clamavas :

"Vide 'o mare quant'è bello!
Spira tantu sentimento."

Hoje , meu querido pai
o meu braço adornado pelo teu anel
em tic-tac que liberta - ai !
enuncia em vento da tua pele
o passado que no presente é enlaçamento :

- "Torna a surriento" !




Com amor ,

Teu junior



LSJ , ao meu pai , 19 Março de 2011,17:40
Reeditado com mudança de título a 190320131755


Nota : não é apenas por ser dia do pai que posto hoje este singelo texto, possuo outras, pelo menos duas, razões mais fortes que são o motivo fulcral desta dedicatória.

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=243979#ixzz2O801OnBo
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives



Stop - Sinais Do Possível

Postado: Luíz Sommerville Junior On quarta-feira, março 13, 2013 2 Carinhos de Luxo

Hoje , pudesse eu escrever,
cortando os espaços
como quem estripa as vírgulas,
ou ter o corpo vazado pelo sinal d´exclamação ,
ah , se eu pudesse ,
como se fora um trem descarrilado ,
descoordenar as reticências
e ser a luta sem fim , à vista ,
do ponto final que impiedosamente
(frio como o gelo e fatal como o punhal)
condena à morte o se de Kipling , brutal !
há muito que queimei na selva
o poema do rei dela
elogio fracassado de tudo o que é impossível ser
maldita elegia forjada no condicional
não , não posso mais escrever
inserindo um espaço a mais na vida
retirando um espaçamento ao sonho
dois pontos e parêntese:)
sorrindo



Luíz Sommerville Junior , 130320132231


O Descobrimento de nós dois

Postado: Daniele Dallavecchia On segunda-feira, março 11, 2013 2 Carinhos de Luxo

















































Tombo ante nosso combate
Diante da saudade daquilo que sei
E também do que não provei.
És um só, mas te sabe tantos.
Poeta,  marido, arauto,
louco, depravado, escravo
e isto te faz três vezes santo...
e quanto escândalo abafado
neste nosso quarto apertado
de paredes que tudo querem saber
onde a tua respiração umedece
minha mais escondida  flor nua
e como um português desbravador
apertas minhas terras mais ao sul
com a tua insana fome de invasor
me faz todos os atos, gato e sapato!
mas no final... no nosso entrave carnal
dou-te meu golpe fatal:
teu corpo num aperto oriental
e jorras para mim todo teu ouro.

Adormecendo no meu peito
Como o mais puro índio juvenil...



Daniele Dallaveccchia, 11.03.2013


Ao Jo


Egocêntrico

Postado: Luíz Sommerville Junior On sexta-feira, março 08, 2013 3 Carinhos de Luxo


Todo o poeta
é um egoísta
quando morre
imagina todo o mundo a chorar
por ele
para ele voltar à Terra
imagina ele ,
todo o mundo lendo as suas poesias
como se ler matasse a fome de pão
como se ler salvasse os pobres de condição
ou como se escrever tornasse imortal
a videira do meu quintal
quando eu morrer
o mais que poderá acontecer
será o infinitivo do verbo
esquecer !
todo o poeta é um egoísta
queria ele que a mulher sofresse
a solidão de todos os tempos
para se consolar
e poder afirmar
a minha querida é minha
mesmo depois da vida !
quanta presunção
habita no estranho coração
do poeta
que pode ou não
ser
como se na Terra
não houvesse mais nada para fazer



Luiz Sommerville Junior


* Imagem da pintura Narciso de John William Waterhouse 


Do Sangue Que Me Corre Em Tuas Veias

Postado: Luíz Sommerville Junior On terça-feira, março 05, 2013 0 Carinhos de Luxo

Meu doce amor
fiquei tão triste , hoje e ainda ...
será que o papel e tinta
que me ensinaram
serem a essência de tudo o que é vida
- acredita-se que Deus escrevia
antes de criar o mundo-
ditaram a sentença
que (me) matou a palavra desenhada?
e palavras são águas caligráficas
que a boca aprende , trémula e sequiosamente ,
a sorver no mais sagrado rio :
- o leite materno !
e palavras são ventos , ar ! ,
que os ouvidos aprendem a escutar
no mais belo espaço :
- o lar !
porém , minha única ,
cada letra que digito
estremece-me , quase até rebentar ,
como um terramoto
esventrando a terra ,
e , ó amor , não é a terra
é o meu corpo
(este meu corpo que me falta)
porque é teu
porque vive , ó sombra ! ,
abraçando desesperadamente
o mais pequenino sinal
da tua presença , ó sol !

(talvez apenas o delírio seja real...)

Entretanto ausente de entre
e vazio de tanto
fiquei tão triste , hoje e ainda ...
porque ....
tenho papel , tenho tinta
mas não sei escrever(te)
as lágrimas felizes que viajam neste dia
nem as ideias banhadas pela sagração da tua imagem
muito menos o sorriso do caminho
em que tu és eterno jardim de estrelas
(acredita-se que as flores são Deus
labutando com os astros pelo equilíbrio do universo)
alongo-me , minha querida ,
nesta estrada vertical
que por vezes vira retrato
quebrado no chão duma casa em ruínas
e deste amor que de tão profundo e imenso
reduz todo e qualquer infinito
ao infinitamente pequeno
que foi que a minha (in)capacidade
de soletrar verbos carinhosos , num ápice e antítese ,
(não)te transmitiu ?
talvez ...
do leite e do materno
do ar e do lar os seus ventos
eu nada tenha aprendido...

se calhar nenhum de nós nasceu para aprender ...
se calhar ... nascemos , somente , para nos encontrarmos
e ...
não é isto muito mais do que o bastante ? ...




À Dani





 

Teu



Luiz Sommerville Junior , 050320130756


Destempero do Ser

Postado: Daniele Dallavecchia On sábado, março 02, 2013 0 Carinhos de Luxo



A noite desce encobrindo a rua
atormentando viúvas, sem dó
e em cada rosto molhado de tristeza
há um ser que não sabe como ser só.
Trafego pela rua solitária e sombria,
talvez pereça naquela esquina
suspirando toda nostalgia
de cada rosto triste, em agonia!
Os cães ladram sua canção noturna
e uma lágrima me corrói o sossego,
é demasiado o desespero
que pesa o dia e carrega a noite,
em cada olhar um ai de saudade
pelo que se foi e pelo que não há mais de vir,
quanto mal há em todo esse desterro!
Uma data, um rosto, um nome, uma palavra
dita, não dita, mal dita
sempre há injustiça no não saber
do momento finito, derradeiro
em que o adeus chega como um tapa
vento forte, implacável... e tão traiçoeiro.



Daniele Dallavecchia