Tenho uma espada afiada,
e dói-me tê-la na ponta da língua,
pois assim como corta
levemente a tua falsa carne
quando ousas me falsear,
covardemente e de soslaio
às pombas que te defecam a cabeça,
minha boca sem trégua
manda-te logo à merda!
O calor gélido da tua encenação,
alma de tristeza, invenção!
pois sei que as poucas aves
que te rodeiam
são trazidas pelos velhos solitários
sentados nos bancos das praças
admirando o tudo e o nada...
Não me controlo diante de ti,
tenho tanto dó , Ó, Ó, Ó!
és tão sem importância, tão estática
que me dói todo o corpo
por não poder gritar-te a verdade,
(escancarada)
não percebeste ainda
não és de sangue, osso e carne!
(és feita de maldade)
e se minha boca sangra
e meu corpo desfalece
é porque o que em mim
ainda prevalece
é a compaixão que por ti tenho
pois sei que tua inteligência
é do tamanho da tua estatura,
ó pobre criatura!
não tens massa cinzenta, és oca,
vazia e nada benta.
Ver-te faz-me sofrer,
és tão coitadinha,
sempre te deixam marcas as andorinhas,
não posso dizer-te
a realidade
explicar o teu (in)significado
seria insuportável para a tua altivez
(ou falta de lucidez?)
pois és a maior invensão de ti...
Não, não estou a zombar ou a rir
não tenho tal autoridade,
não te pari,
mas meu peito dilacera-se
porque és feita do gesso mais barato
e foste muito mal feita, ó raio!
pela preguiça do teu criador,
inexperiente escultor...
logo hás de desfazer-te em pó,
cal, terra e mais nada!
Mas o que mais me apieda,
quando vejo tua face fria
é saber,
Ó pobre estátua,
que por mais que queiras
(i)mortalizar-te
nunca saberás
o que é de fato
o calor verdadeiro,
o bater enlouquecido
dum coração
realmente humano.
Daniele Dallavecchia, 06072012,1:51
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