Morreu ontem
quando o relógio caiu ao chão
por culpa duma asa que se libertou do tempo
foi triste de ver
a maquinaria desfeita, peças desorientadas, estateladas
implorando por um minuto certo
naquele espaço sem consequência e sem acerto
quando o tempo se faz desastre
para onde vão os fragmentos da vida?
pedaços de gerações alinhados no guarda-roupas?
anos de tristezas e alegrias aprisionados numa caixinha de jóias?
dias memoráveis encaixotados num baú
e despachados no próximo trem de mercadorias?
ou todas as riquezas da alma vendidas numa qualquer Feira da Ladra?
ontem parou de vez, consequência duma peça defeituosa
soltou-se do pulso no qual marcava a cadência que o orientava ...
todo o tempo carece duma âncora ...
Luíz Sommerville Junior, 030820132343
Ontem
quando o tempo errado
gritava por alguns segundos certos
dois anjos foram ao chão
e clamaram a Deus perdão
pela falta de amor alheia
que lhes cortou a carne
pelo sangue derramado pelo abandono
(dois anjos abandonados nesta terra errante)
E um relógio sem dono
um braço sem pulsação
ainda buscava vida
se apenas o relógio pudesse congelar a queda
das lágrimas, o assombro do desespero...
Mas não
a maquinaria espatifou-se
e com ela
tudo que havia de bom nos homens doutrora
e com ela foi-se a aurora dos nossos sorrisos
Morremos para o mundo
mas renascemos para dentro dos nossos sorrisos
aqueles só nossos
escondidos, bonitos, divinos
e levantamos juntos e de mãos dadas
varrendo toda a tempestade
para longe de nós
para lá da nossa felicidade.
Te amo, meu amor.
Tua Dan